Para Estela Rosa, não há um momento certo de se dizer escritora.
“Acontece quando você percebe que o que você escreve vai além de você.”
Acho que ela estava falando da escrita começar a atingir outras pessoas.
Quando o texto é mais que um reflexo da autora.
Mas escrever um projeto para ser contemplado no PROAC é a exigência agora de se dizer escritora.
Um “ ir além” provocado à fórceps.
Quando o/a artista iniciante tem que se dizer antes de ser.
Como então falar da minha obra futura de modo honesto, sem diminuí-la ou superdimensioná-la?
O que eu estou escrevendo? Pra quem e por quê?
Eis o que escrevi sobre o que agora escrevo:
“As protagonistas de Travessência são todas mulheres personagens contemporâneas da sociedade urbana, lidando com as questões de família e trabalho, mas, principalmente, com as demandas e fortes expectativas sociais do papel da mulher no mundo.
Não só as do conto que dá nome ao livro, mas todas as protagonistas estão em estado de travessência. A vida é uma travessia, mas às vezes a existência empaca, não flui, como travamento de uma essência que não ultrapassa os obstáculos que atravessam a busca. O conflito dos contos é um conflito latente, sempre presente, já é parte da identidade das personagens. O essencial de uma essência perdida ou nunca conquistada é uma marca da vida da mulher em sociedade, sua eterna busca.”