Nestes sete anos
Eu nunca te escrevi uma poesia
dentre os motivos estariam
eu ter parado de escrever
toda atribulação do seu nascimento
e eu, aprendendo a ser mãe, esposa
e não sabendo mais quem eu era
não tinha tempo de ser poeta.
Mas não é todo o motivo
pois, agora reaprendendo
a relação entre papel e caneta
não tenho vontade de falar de você
Me senti culpada
Me lembro de quando seu pai
meu namorado
me perguntou se eu escrevia sobre nosso amor
e eu também não escrevia
me senti igualmente culpada
Escrevi um poema meio encomendado
sincero, mas encomendado
A culpa ocorre porque
a poesia seria a máxima expressão do amor
então, não os amaria?
Me ocorreu só agora o engano
a poesia registra tudo sim
e a poesia do amor realizado
existe para mostrar que é possível
Mas a poesia espontânea
é aquela que se forma no estômago
sobe pela garganta
e precisa sair
É a expressão das coisas não realizadas
está sempre no pretérito imperfeito
fala de quem morreu
de quem não viveu
de sonhos utópicos e de ideais sem tijolos
A poesia realmente sentida
é sempre um epitáfio
Um dia
se for boa o suficiente
na arte de lapidar as palavras
faço uma poesia documental sobre você
e nela descrevo
o quão você é completo em si mesmo
Mas, por enquanto,
a minha poesia é sobre o que eu sinto
e não do que eu vejo.
(Outubro de 2002)