O azul e o vermelho

O ferro desenhado não é todo azul. Ferro coisa antiga, hoje é de alumínio ou vidro, os guarda-corpos. Guarda corpo? Mais ou menos.

Guarda, mas não protege. Como sombrinha em dia de tempestade. Guarda, no lugar de libertar e limita ao invés de cuidar, como certos relacionamentos. Nunca é sempre azul mas não precisa ser só cinza. Cinza todo o tempo do bom dia cuspido ao sexo escarrado.

O ferro está descascando vermelho. Vermelho vivo. Vermelho vai ficar o piso lá de baixo. O mármore da entrada do hall, orgulho do condomínio, todo desenhado com sangue pisado. Não sai o sangue do mármore, não saiu o do joelho ralado do peste de baixo do 121. Não deve ser mármore, com certeza é cerâmica da pior qualidade. Como tudo que está impregnado no apartamento.

Da varanda, vê o homem na sala de jantar, seu prato já vazio, garfo e faca sobre o miosótis desenhado da porcelana. Nem se deu ao trabalho de chamá-la para jantar. Nem olha de novo o descascado do ferro, não precisa calcular mais. Se joga.