Quando eu vi e senti o porquê

Eu ia continuar com Galeano, mas fui no correio. E lá, a magia da vida real brecou minhas crises intelectualoides.

Entrava no blog no horário cronometrado a postagem anterior, a crônica que fala de sou escritora no correio e enquanto isso…

eu fui escritora no correio.

E dessa vez eu não fui escritora por  levar textos para concurso literário. Estava lá com aquele estranho envelope, fechado à cera de vela. Carta a alguém que não conheço. Alguém que não espera receber palavras minhas, mas  receberá.

E talvez ser escritora e escritor é isso:  delinear palavras intrusas, palavras que podem ser bem recebidas, apesar de não terem pedido licença em vir.

Eu fui escritora no correio por ter sido lida pelos funcionários do correio.

E ali, eu, com minha carta já postada, eu que já não era mais cliente, mas esperando que os demais com senha não soubessem disso porque paramos a fila. Do outro lado do balcão amarelo um Beto tímido que me diz que leu sim a crônica que eu entreguei em mãos da minha última vez lá.

Eu, também tímida, nessa visita de entrega de um texto sem meu nome. Menos pela vaidade de ser lida, mais por entender o direito de Beto saber que foi personagem.

E o Beto “Espera uma pouco vou chamar meu supervisor”, quando ele chega, me apresenta “É ela que é a Mariposa”.

E, naquele agora, naquele ali, Beto não era mais o funcionário público nem Ramon era seu chefe, eram amigos, eram pessoas que leem e comentam o que leem. E ficam satisfeitos de trazer suas apreciações a quem escreveu, eu, do outro lado do balcão desbotado. Eu, mariposa, a identidade secreta do pseudônimo revelado.

Naquele ali feito agora, valeu a pena ter escrito aquelas linhas lidas. Entendi Galeano no palpável do sorriso de trabalhadores, prestes a precisar pedir direitos numa greve, que despem o fardo do funcionalismo público para alegria de se colocarem. Na minha alegria de ter levado alegria, nós quatro  – a atendente do lado também ouvindo curiosa- nós quatro num raro momento de pausa qualitativa na rotina.

Experimentei ali as finalidades do meu ofício.

Feliz, não precisei retomar o debate com Galeano.

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