DESTINO

 

Andar.
Liberdade.
Entrar.
Liberdade.
Descer.
Liberdade.
Abriu.
Liberdade.
Sentar.
Liberdade.
Voz fanhosa. Fé?
Muita gente.
Apertar.
Continua.
Cochilar.
Carandiru.
Levantar.
Carandiru.
Abriu.
Carandiru
Não sair.
Carandiru.
Tocou.
Carandiru.
“Você está atrasado…”
Sinal sonoro.
Carandiru.
“Ah você está no metrô? Tá chegando então…”
Fechou.
Carandiru.
Santana.
Jardim São Paulo.
Parada Inglesa.
Tucuruvi.
Parada Inglesa.
Jardim São Paulo.
Santana.
Carandiru.
Vibrou.
Não atender.
Portuguesa.
Armênia.
Tiradentes.
Vibrou.
Desligar.
Luz.
São Bento.
Sé ( a não fé…)
Liberdade. (liberdade?)
Cochilar.


Paraíso?


Santa Cruz. ( mais provável…)





















Tiradentes Armênia Portuguesa Carandiru Santana Jardim São Paulo Parada Inglesa Tucuruvi Parada Inglesa Jardim São Paulo Santana Carandiru Portuguesa – Tietê (era melhor quando era só Tietê) Armênia Tiradentes Luz São Bento ( iluminação é algo que só os santos têm…) Sé Liberdade São Joaquim Vergueiro Paraíso Ana Rosa Vila Mariana (por onde anda a Mariana?) Santa Cruz Praça da Árvore Saúde São Judas Conceição Jabaquara
Jabaquara.
ConceiçãoSãoJudasSaúdePraçadaÁrvoreSantaCruzVilaMarianaAnaRosaParaísoVergueiroSãoJoaquimLiberdadeSéSãoBentoLuzTiradentesArmêniaPortuguesaTietêCarandiruSantanaJardimSãoPauloParadaInglesaTucuruviparadainglesajardimsãopaulosantanacarandiruportuguesatietêarmêniatiradentesluzsãobentoséliberdadesãojoaquimvergueiroparaísoanarosavilamarianasanta cruzpraçadarvoresaúdesãosjudasconceiçãojabaquaraconceiçãosãojudassaúdepraçadarvoresantacruzvilamarianaanarosaparaísovergueirosãojoaquimliberdadesésãobentoluztiradentesarmêniaportuguesatietêcarandirusantanajardimsãopauloparadainglesatucuruviparadainglesajardimsãopaulosantanacarandiruportuguesatietêarmêniatiradentesluzsãobentoséliberdadesãojoaquimvergueiroparaísoanarosavilamarianasantacruzpraçadarvoresaúdesãosjudasconceiçãojabaquaraconceiçãosãojudasaúdepraçadarvoresantacruzvilamariananarosaparaísovergueirosãojoaquimliberdadesésãobentoluztiradentesarmêniaportuguesatietêcarandirusantanajardimsãopauloparadainglesatucuruviparadainglesajardimsãopaulosantanacarandiruportuguesatietêarmêniatiradentesluzsãobentoséliberdadesãojoaquimvergueiroparaísoanarosavilamarianasantacruzpraçadarvoresaúdesãosjudasconceiçãojabaquara
“este trem não prestará serviço” “atenção: este trem será recolhido” “este trem não prestará serviço” “este trem não prestará serviço” “este trem não prestará serviço” “…prestará serviço”” (prestará)
(prestará?)
“Senhor, é preciso sair, este trem não prestará serviço”
(é preciso sair)
(é preciso sair)
Sair.
O trem recolhido. Acolhido?
‘A faixa amarela é a sua segurança’
(Segurança)
(SEGURANÇA)
(Segurança???)
(o vão dos trilhos é canyon da metrópole)
{ }
(é bonito também. é sim, o  limite seduz…)
(limite- limiar , limiar de vida, por quê vida? é preciso sair. sair. sair da vida)
(… o limite seduz…)
{ }
(a faixa amarela é limitação, a limitação não interessa)
{ }
{ }
{ }
{ }
{}
}
Portas que se abrem.
Entrar.
Sentar.
Conceição.
São Judas.
Saúde.
Praça da Árvore.
Santa Cruz.
Vila Mariana.
Ana Rosa.
Paraíso.
Vergueiro.
São Joaquim.
Liberdade.
Levantar.
Liberdade.
Sair.
Liberdade.
Subir.
Liberdade.
Andar.
Liberdade.
Chegar.
Liberdade.
Dormir.
Liberdade.
Sonhar.
liberdade…
Acordar.
realidade.

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Sobre a foto:

Direção e Fotografia:

Beatriz Costa     Instagram @bea_costa_fotografia

Direção de arte:

Pablo Abreu                Instagram @pabluj

De vulcão a rio – 2

 

Respirar é escrever.

Para o soterrado, o asfixiado, o asmático o ar que falta vem do esforço de narinas, traqueia, abdômen, pulmão para puxar o que sobra de ar onde quer que ele esteja  e assim se manter vivo.

Escrever também é ato de sucção que me mantém viva.

Porém se adenoide, se …

– corpo complicado aqui

….

Duas peças em papel, a batalhar encenação.

Duas outras dramaturgias pela metade.

A exata metade.

Outra em ideia.

Dois romances iniciados, um já com 40 páginas..

E até a continuação instagraniana da História da casa

Nada terminado.

Ou quase nada terminado.

Uma de livro de contos já escritos, mas de revisão dele parada.

O tempo?

O de sempre, escasso.

Todos sabemos que o tempo é pouco para arte.

“O tempo do amor e o tempo da escrita são tempos roubados”.

Tempo roubado do que deveríamos estar fazendo.

As obrigações corriqueiras de quando deveria apenas ser quotidiana e tributável

Quando não fútil, quotidiana e tributável

Ou ainda casada, fútil, quotidiana e tributável?

(eu consegui me livrar dos dois 1os adjetivos mas não dos dois últimos)

(não tem nada de cotidiano em escrever…)

Não reclamo mais do tempo, que é briga inútil.

Reclamo do meu corpo.

Do meu corpo que está sucumbindo com o escasso tempo.

Amarrotado pelo peso das horas.

Ao invés de gerar dentro delas.

 

 

Nenhum projeto de texto lindamente planejado se acomoda em um corpo assim.

Corpo epilético.

Corpo – choro -chove

…peças,  romances, contos.. óvulos fecundados que escapam de útero de paredes convulsionantes.

Levados pelas águas transbordantes de um corpo que chora porque não gera

E não gera porque chora.

 

Mas como é necessário escrever.

Como é necessário se alimentar, nem que seja de terra quando não há frutos nem sementes.

Como é necessário sobreviver.

Eu escrevo sobre a não escrita.

E delineio cartas inúteis.

 

Meu corpo é , ao mesmo tempo, terra semeada e soterramento, chuva ansiada e enchente…

Estou a descobrir se morro ou se me gero.

Regenero?

 

#feitiçocontraofogo   #devulcãoario

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Sobre a foto:

Direção e Fotografia: Beatriz Costa     Instagram @bea_costa_fotografia

Direção de arte: Pablo Abreu                Instagram @pabluj

De vulcão a rio – 1

Em cima, terra, terra, terra, terra, terra, terra, só terra. De um lado terra, terra, terra, terra, terra, terra, terra. Do outro rocha.Embaixo o buraco.A equipe de resgate não existe.Em cima, terra, terra, terra, terra, terra, terra, só terra. De um lado terra, terra, terra, terra, terra, terra, terra. Do outro rocha. Embaixo o buraco.Cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, cavar. Eu paro para descansar, as unhas sangrando.E em cima ainda tem muita, muita, muita, muita, muita, muita, muita terra.Só terra em cima seria bom. Eu sei que só terra em cima seria bom. Essa rocha, eu precisei desviar.Necessito do que é reto e precisei fazer curvas.Eu sei que desviar da rocha foi uma conquista.Eu me lembro de quando meus dedos esperavam grãos mesmo que compactos e   encontraram solidez, solidez, solidez, solidez bem em cima da minha cabeça.Eu me lembro da minha raiva e do meu choro. Da inércia de 3 dias, sono não descanso, desistência.Eu me lembro do exato momento que decidi tirar as camadas de solo dos meus olhos e da minha boca e comecei a apalpar todos os lados.E em cima um palmo à direita era rocha, mais dois palmos era rocha, outro.. e era rocha. Três palmos à esquerda era rocha, mais dois era rocha.Eu não tinha mais para onde me movimentar, meus limites claros. Cavar, cavar para o lado. Que lado? Cadê pesquisa geológica, ultrassom de solo? Cavei a esquerda porque o terreno era menos indócil. Não há como saber se foi péssima decisão a longo prazo.Cavei, cavei, cavei, cavei para à esquerda como minhoca barata tonta.Esforço de movimento que ainda não é saída. Eu sei que a rocha ao lado agora é uma conquista. Mas não se dá parabéns ao apenas um pouco menos soterrado.Não se diz que está tudo bem a quem tem as unhas sangrando.Não se comemora o quase de quem ainda não vive. Não me lembro como cheguei aqui. A equipe de resgate não existe. Então são duas as possibilidades. Eu sou cadáver adiado. Ou sou semente. Quero ser semente. Mas para me tornar flor eu preciso de coragem para romper a terra. Para ter coragem eu preciso de força. Para ter força eu preciso de ar. Aqui. Agora. Asfixiada.Para respirar plenamente eu preciso sair da terra. Mas para sair da terra eu preciso de força. Para ter força eu preciso de ar. É raro o ar por aqui. Eu preciso escapar do subsolo para respirar. Mas sem ar eu não escapo do subsolo. ….Serei cadáver?