De vulcão a rio – 2

 

Respirar é escrever.

Para o soterrado, o asfixiado, o asmático o ar que falta vem do esforço de narinas, traqueia, abdômen, pulmão para puxar o que sobra de ar onde quer que ele esteja  e assim se manter vivo.

Escrever também é ato de sucção que me mantém viva.

Porém se adenoide, se …

– corpo complicado aqui

….

Duas peças em papel, a batalhar encenação.

Duas outras dramaturgias pela metade.

A exata metade.

Outra em ideia.

Dois romances iniciados, um já com 40 páginas..

E até a continuação instagraniana da História da casa

Nada terminado.

Ou quase nada terminado.

Uma de livro de contos já escritos, mas de revisão dele parada.

O tempo?

O de sempre, escasso.

Todos sabemos que o tempo é pouco para arte.

“O tempo do amor e o tempo da escrita são tempos roubados”.

Tempo roubado do que deveríamos estar fazendo.

As obrigações corriqueiras de quando deveria apenas ser quotidiana e tributável

Quando não fútil, quotidiana e tributável

Ou ainda casada, fútil, quotidiana e tributável?

(eu consegui me livrar dos dois 1os adjetivos mas não dos dois últimos)

(não tem nada de cotidiano em escrever…)

Não reclamo mais do tempo, que é briga inútil.

Reclamo do meu corpo.

Do meu corpo que está sucumbindo com o escasso tempo.

Amarrotado pelo peso das horas.

Ao invés de gerar dentro delas.

 

 

Nenhum projeto de texto lindamente planejado se acomoda em um corpo assim.

Corpo epilético.

Corpo – choro -chove

…peças,  romances, contos.. óvulos fecundados que escapam de útero de paredes convulsionantes.

Levados pelas águas transbordantes de um corpo que chora porque não gera

E não gera porque chora.

 

Mas como é necessário escrever.

Como é necessário se alimentar, nem que seja de terra quando não há frutos nem sementes.

Como é necessário sobreviver.

Eu escrevo sobre a não escrita.

E delineio cartas inúteis.

 

Meu corpo é , ao mesmo tempo, terra semeada e soterramento, chuva ansiada e enchente…

Estou a descobrir se morro ou se me gero.

Regenero?

 

#feitiçocontraofogo   #devulcãoario

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Sobre a foto:

Direção e Fotografia: Beatriz Costa     Instagram @bea_costa_fotografia

Direção de arte: Pablo Abreu                Instagram @pabluj

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